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O candidato Fernando Haddad (PT), em seu primeiro discurso logo após o resultado das eleições, na noite deste domingo (28), disse que é preciso continuar a luta democrática no Brasil e não se assustar com o que está por vir. Segundo ele, é preciso se manter firme e ter coragem para enfrentar o governo de Jair Bolsonaro (PSL). “Eu coloco a minha vida à disposição deste País”, disse ele.
De acordo com Haddad, “tem muita coisa em jogo” no Brasil, mas ele garante que irá se reconectar com as bases para que possa ser feita uma resistência democrática. “Daqui a quatro anos teremos uma nova eleição. Não tenham medo. Nós estaremos aqui”, afirmou o petista ao dizer que via uma angústia e um medo muito grande no rosto dos brasileiros que ele encontrava durante a campanha.
Haddad disse ainda que a sua chapa tem um compromisso de prosperidade com o País e não irá aceitar provocações e ameaças. “Verás que um professor não foge à luta”, afirmou o candidato dizendo que os democratas terão uma tarefa grande ao defender a liberdade de pensamento. Mesmo assim, Haddad diz que seguirá de cabeça erguida e com determinação. Segundo o petista, ele aprendeu com seus pais e avós que é preciso ter coragem antes de tudo.
Ao lado de sua vice Manuela D’Ávila (PCdoB), de sua esposa Ana Estela, de seus filhos e de sua mãe, Haddad afirmou que continuará firme, lutando pela soberania nacional e pelos nossos patrimônios.
A turbulência será inevitável na convivência entre PT e PDT no Ceará. O cenário nacional, com as declarações do ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, ao dizer que não quer mais aliança com o PT, terá reflexos na política estadual. Ciro, ao lado do irmão eleito senador Cid Gomes, garantiu dois mandatos de governador ao petista Camilo Santana – eleição em 2014 e reeleição em 2018.
Ciro, ao votar, nesse domingo, em Fortaleza, reafirmou as suas diferenças com o PT, ficou distante do segundo turno, frustrou os petistas que o tinham como um voto declarado para Fernando Haddad, e anunciou que aliança com o Partido dos Trabalhadores nunca mais: ‘’Se depender de mim, PT nunca mais. Meu caminho é o de fazer oposição, temos que desarmar essa bomba odienta que se instalou no país, essa polarização’’, disparou Ciro, de forma enfática, mas com uma frase que pode ser refeita com a dinâmica da política.
A frase de Ciro Gomes é o retrato de quem, nos dois meses que antecederam à oficialização dos candidatos à Presidência da República, esperava um gesto do PT para apoiá-lo diante da impossibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula entrar na corrida ao Palácio do Planalto. O PT insistiu, porém, com o nome de Lula, mesmo com a certeza de que, condenado e preso, o líder petista estava inelegível.
O PT ignorou Ciro e o golpeou ao atrair o PC do B para a composição de chapa e convencer o PSB a entrar na linha de neutralidade. Ciro ficou isolado com o PDT e, ao final do primeiro turno, somou mais de 13,3 milhões de votos – um capital eleitoral que o credencia a conduzir uma oposição e se transformar em uma das fortes opções para 2022. São quatro anos pela frente, mas com articulações que começam a partir desta semana e passam pelas eleições de 2020.
IMPACTO NA POLÍTICA DO CEARÁ
O gesto de Ciro Gomes terá impacto na política do Ceará e representa mais uma etapa dos conflitos surgidos nos últimos meses na relação com o PT e com o Governador Camilo Santana. Os abalos ganharam mais espaço com a aliança entre Camilo e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB). Camilo contrariou Ciro e decidiu apoiar à reeleição de Eunício. Durante a campanha, Ciro manteve as críticas ao emedebista e, na reta final da disputa no primeiro turno, recebeu a solidariedade de prefeitos e ex-prefeitos que deixaram de votar em Eunício. O nome de maior expressão nessa estratégia foi o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT).
Encerrado o primeiro turno, Ciro Gomes ficou fora do segundo turno, não aceitou subir no palanque do candidato do PT, Fernando Haddad, e preferiu viajar para a Europa. A ausência gerou frustração no comando da campanha de Haddad. Com Ciro na Europa, o irmão Cid, eleito senador, criou um dos principais fatos no segundo turno da campanha presidencial: durante um evento mobilizado pelo governador Camilo Santana para fortalecer a candidatura de Fernando Haddad no Ceará, Cid abriu os discursos e, ao pedir uma autocritica do PT, recebeu vaia, ficou irritado, direcionou a palavra ao militante que o hostilizava e o chamou de babaca.
INCÔMODO DE CAMILO SANTANA
O ambiente na reunião ficou meio amargo e o episódio fez o deputado federal José Nobre Guimarães falar grosso e declarar o fim da aliança com o PT. Guimarães se arrependeu do arroubo, apagou a mensagem distribuída pelas redes sociais, adotou um tom mais ameno e afirmou que a aliança com o PDT precisa ser repensada.
O incômodo ficou no colo do governador Camilo Santana que cumpriu o papel de bombeiro e faz esforços para manter unido o grupo que o conduziu ao comando político e administrativo do Estado. É cedo e precipitado para se falar em rompimento, embora esse seja o desejo de alguns petistas mais apressados.
Há, porém, gente com bom senso e que, como Camilo Santana, trabalha pela pacificação e pela manutenção da aliança entre PT e PDT. Com um claro aspecto: a unidade na base de Camilo terá altos e baixos. Dois novos capítulos surgirão nesse cenário: a composição do secretariado do segundo governo de Camilo e a disputa, no dia primeiro de fevereiro de 2019, pela Presidência da Assembleia Legislativa. Outro componente precisa ser levado em conta: com a vitória de Jair Bolsonaro exigirá de Camilo, Cid e Ciro um esforço redobrado para manter a unidade do grupo e evitar o fortalecimento no Ceará dos aliados do novo presidente da República.
Com Ceará Agora
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