Secretário da Segurança Pública, André Costa (Foto: Reprodução) |
As declarações do
secretário da Segurança Pública, André Costa, visando um novo momento para o
Ceará, repercutiram entre os agentes do sistema do Estado. Em entrevista
coletiva no último sábado, 28, o secretário apontou dois caminhos para quem
comete crimes contra policiais: a Justiça para quem se entregar, o cemitério
para quem “puxar uma arma”. O teor foi repetido em postagem dele na rede social
Instagram. Da fala do delegado federal, ficou o debate sobre o limite entre
legalidade e excesso na ação policial em situações de conflito.
A entrevista do sábado foi
concedida após prisão de suspeito de assassinar o cabo Arlindo da Silva Vieira
na sexta-feira. Conforme o defensor público Emerson Castelo Branco, em situação
de confronto direto, o policial ameaçado de vida pode reagir de forma
proporcional. A situação e o discurso completo, segundo o defensor, foram mal
entendidos pela escolha das palavras de Costa. Segundo Emerson, mesmo os
policiais podem erroneamente achar que os excessos foram respaldados pelo Estado.
Uma das críticas ao
secretário veio do promotor de Justiça Marcus Renan Palácio. “Só há um caminho
dentro da institucionalidade, que é o da Justiça. Falar em cemitério pode
estimular reações desviadas e abusivas. Vide, por exemplo, a Chacina do Curió”,
disse. A posição do promotor repercutiu negativamente entre policiais nas redes
sociais. Presidente da Associação Cearense do Ministério Público (ACPM), o
promotor Lucas Azevedo saiu em defesa de Renan. “Ninguém pode incitar justiça
com as próprias mãos. É o que qualquer operador técnico do direito falaria”.
No entanto, o promotor não
enxerga dissonância entre as motivações de Renan e Costa. Para Azevedo, a fala
do secretário foi desvirtuada, tendo o discurso da legalidade como mote
original.
Cautela
É justo que o Estado
busque punição para qualquer morte, que gera sofrimento e sentimento de
revolta, pondera Luiz Fábio Paiva, professor de sociologia e pesquisador do
Laboratório de Estudos da Violência (LEV-UFC). No entanto, o risco está em
combater o crime objetivando matar. “O princípio que move o gatilho do policial
não pode ser o desejo de vingança, mas de fazer justiça e proteger os
princípios que estabelecem e estruturam uma vida em sociedade”, defende.
Para o deputado estadual
Renato Roseno (Psol), a morte de um policial requer apuração e assistência às
famílias. Por outro lado, ele lamenta a fala do secretário André Costa.
“Entendo que possa não ser esta a intenção, mas este discurso pode estar
incitando mais violência em territórios já muito marcados pelo conflito”,
comenta.
Como relator do Comitê
Cearense pela Prevenção dos Homicídios na Adolescência, a percepção é de
relação tumultuada entre comunidades e policiais. Assim, o deputado defende o
estímulo a uma polícia onde imperem a mediação, a inteligência e a prevenção da
violência.
(colaborou Demitri Túlio/ O
POVO )
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