Foto: Portal de Juazeiro |
Divulgado pelo Portal de Juazeiro ,o maior desejo do Padre Cícero foi finalmente realizado hoje com a divulgação oficial pelo bispo D. Fernando, durante a celebração da missa na Sé Catedral de Crato em regozijo pela passagem do Ano Santo (ou Jubileu) e Abertura da Porta Santa da Catedral do Crato do decreto de reconciliação da Igreja com o Padre Cícero. Isso é mais do que reabilitação. É perdão mesmo!
De acordo com o documento divulgado, Padre Cícero está oficialmente anistiado de todas as punições que lhe foram impostas pelo bispo e o papa da época. E não é só, o decreto assinado além de também exaltar as qualidades sacerdotais do Pai da Nação Romeira põe fim ao martírio atroz que o perseguiu durante toda a sua vida e se estendeu até mesmo depois da sua morte, porquanto os seus detratores continuaram vilipendiado sua memória, tripudiando sobre seu cadáver e propagando inverdades as quais o colocavam como um ser monstruoso, um padre que deveria ser abolido da lista do clero e apagado para sempre da memória coletiva.
Ledo engano, porque, agora, com a existência desse novo decreto em que a Igreja se reconcilia com o Padre Cícero, quem ousar falar mal dele, apresentando-o como herege e embusteiro, estará simplesmente fazendo papel de ignorante ou despeitado, pois nenhuma dessas acusações, antes aceitas pela Igreja, faz mais sentido doravante.
A partir de hoje – como está explícito nos termos do decreto - a Igreja reconhece oficialmente o filho mais ilustre de Crato e o fundador de Juazeiro como um sacerdote íntegro, virtuoso, um exemplo a ser seguido pelas suas decantadas e autênticas virtudes. Por isso, Juazeiro e toda a Nação Romeira estão em festa, exaltando o tão esperado evento, com certeza um dos mais significativos da biografia do Padre Cícero.
Estão assim compensadas todas as orações feitas pelos devotos e os esforços empreendidos pelo bispo, os membros da comissão que elaborou o projeto de pedido de reconciliação, os padres e as autoridades em geral que formaram uma verdadeira corrente de fé em prol da consecução do objetivo, o maior desejo do Padre Cícero.
No céu, com certeza, ele está comemorando a vitória junto com seus amigos que estão lá. O professor José Marrocos, então, deve estar vibrando tanto quanto o Padre Cícero.
Agora, dos inimigos do Padre Cícero se espera apenas que tenham a hombridade de aceitar pacificamente a decisão do Vaticano, a qual foi promulgada competentemente após exaustiva apreciação da vasta documentação que de tão bem feita e esclarecedora, terminou convencendo os cardeais do colegiado e direcionando-os para o verdadeiro caminho da conclusão, que não foi outra senão o da reconciliação.
Finalmente a biografia do Padre Cícero está como ele desejava, à altura da Igreja que tanto amou e da religião que professou e foi um dos seus grandes propagadores no Nordeste. Sua memória não pode mais ser vilipendiada pelos inimigos gratuitos. Todos os seus devotos e admiradores estão verdadeiramente felizes porque ele é mesmo como acreditavam: um padre virtuoso, incapaz de praticar qualquer veleidade contra a sua Igreja.
Afinal, depois de mais de dez anos o tão esperado decreto da reconciliação chegou, deixando o Padre Cícero em paz com a sua Igreja para júbilo de toda a Nação Romeira. Portanto, hoje é dia de festa, vamos comemorar! Parabéns, Padre Cícero. Obrigado, Papa Francisco. Obrigado, D. Fernando. E agora, vamos todos cantar: “Viva meu Padim, viva meu Padim, Ciço Romão!”
Romeiros (Foto: Portal Juazeiro) |
CRONOLOGIA DO MARTÍRIO DO PADRE CICERO
- 4 de novembro de 1889. Inconformado com as notícias veiculadas na imprensa sobre os milagres o Bispo Dom Joaquim envia carta a Padre Cícero na qual o proíbe expressamente de fazer qualquer manifestação pública sobre o assunto.
- 6 de agosto de 1892. Através de Portaria o bispo D. Joaquim suspende o Padre Cícero das faculdades de confessar, pregar e administrar sacramentos. Esta foi a primeira pena grave imposta oficialmente a ele como desdobramento das investigações dos fenômenos ocorridos no povoado de Juazeiro a partir de 1º de março 1889, denominados popularmente de Milagres da Hóstia.
- 13 de abril de 1896. O bispo dom Joaquim aumenta a punição ao Padre Cícero e o proíbe de celebrar Missa.
- 10 de fevereiro de 1897. O Santo Ofício emite um novo Decreto, agora proibindo a permanência de Padre Cícero em Juazeiro, sob pena de excomunhão. Temeroso de incorrer na pena de excomunhão, em 29 de junho de 1897 ele resolve sair do povoado e vai para Salgueiro.
- 22 de junho de 1898. Após cinco interrogatórios os cardeais do Santo Ofício decidem absolver o Padre Cícero das censuras até então impostas, mas ele permanece com a proibição de pregar, confessar e dirigir as almas e é aconselhando a procurar outra diocese.
- 5 de setembro de 1898. Após vários requerimentos enviados ao Santo Ofício para regularizar sua situação ele consegue autorização e com muita alegria celebra Missa na Capela de São Carlos em Roma. E os cardeais foram mais benevolentes ainda, pois lhe concederam também permissão para celebrar durante a viagem de volta ao Brasil.
- 15 de novembro de 1898. Padre Cícero se apresenta a Dom Joaquim em Fortaleza e lhe informa que fora absolvido em Roma. Mas o bispo, certamente insatisfeito com a decisão do Santo Ofício, foi implicante mais uma vez e não permite que ele celebre em Juazeiro.
- 12 de julho de 1916. O Santo Ofício declara o Padre Cícero incurso na excomunhão latae sententiate.
Em 27 de julho de 1916 o cardeal Merry Del Val comunica o fato oficialmente ao Núncio Apostólico, Dom José Anversa. D. Quintino, bispo do Crato, só tomou conhecimento desse documento no dia 14 de abril de 1917, portanto nove meses depois da sua publicação. E só resolveu comunicar por carta ao Padre Cícero no dia 29 de abril de 1920, portanto três anos depois. Padre Cícero não chegou a receber essa carta porque Dr. Floro foi quem a viu primeiro e diante do conteúdo exposto achou por bem não lhe entregar, pois achava que em face da avançada idade Padre Cícero não estava em condições de saúde e psicológicas para suportar tamanho baque. E foi isso mesmo que Dr. Floro informou ao bispo, conseguindo convencê-lo a não dar conhecimento da gravíssima pena de excomunhão a que padre Cícero incorreu. Dom Quintino tinha, então, um documento provando que Padre Cícero estava excomungado, mas mesmo assim deixou que ele continuasse celebrando missa fora de Juazeiro. Ele celebrava no sítio Saquinho, município do Crato.
- No dia 1º de janeiro de 1917, estando excomungado, mas sem saber, Padre Cícero recebe autorização do bispo para celebrar Missa na capela de Nossa Senhora das Dores, onde deixara de celebrar desde o dia 6 de agosto de 1892.
Tudo corria mais ou menos normal entre Padre Cícero e o bispo Dom Quintino. Mas no dia 2 de junho de 1921 Padre Cícero lhe escreve uma carta pedindo autorização para ser padrinho de batismo de uma criança, filha legítima do Sr. Antônio Luiz de Assis Chitafina e Lucila Tenório de Assis, residentes em Juazeiro. Para sua surpresa, Padre Cícero recebeu a seguinte resposta:
“Visto como o Revdmo. suplicante não está cumprindo exatamente todas as cláusulas das declarações que em Dezembro de 1917 depositou em nossas mãos, depois de serem lidas em público; e não só está fomentando a venda e divulgação das medalhas proibidas (quais são as que têm a sua efigie), mas frequentando o estabelecimento do vendedor e benzendo-as, como ainda a certa mulher que deixou de confessar-se para casar por ter declarado que acreditava "Nos milagres do sangue precioso do Juazeiro" aconselhou-lhe que fosse para Cajazeiras, da Paraíba, onde há trabalhos públicos, e depois de algum tempo de estadia ali, efetuasse, lá mesmo, seu casamento; não podemos dar licença ao mesmo suplicante para apadrinhar crianças e nem lhe conceder uso de ordens nesta diocese.
Crato, 3 de junho de 1921
Ass. Quintino, bispo diocesano”.
Segundo escreveu Amália Xavier de Oliveira em seu livro O Padre Cícero que eu conheci, “este despacho só chegou ao conhecimento do Padre Cícero no dia 4 de junho, quando ele já havia celebrado, sem o saber, sua última Missa”.
Apesar de muita gente ter o bispo dom Quintino como algoz e inimigo do Padre Cícero, ele, na verdade foi muito benevolente para com o Padre Cícero e até escreveu ao Papa pedindo a sua reabilitação.
No dia 23 de fevereiro de 1921, o Santo Ofício analisou a solicitação de Dom Quintino ao Papa, que pede a absolvição das censuras e a permissão de celebrar, e resolveu atender apenas à primeira parte (absolvição das censuras, aí incluindo a excomunhão), mas não concedeu o direito de celebrar, podendo o Padre Cícero receber os sacramentos como simples leigo. Também é feita mais uma vez a recomendação de ele deixar Juazeiro.
- 3 de junho de 1926. Como Padre Cícero adotou a opção de permanecer em Juazeiro Dom Quintino acatando determinação do Santo Ofício o suspende novamente, retirando-lhe o uso de ordens. Foi esta a última e definitiva punição.
E foi nessa situação – suspenso de ordens e não excomungado - que Padre Cícero encerrou seus últimos dias de vida, em 20 de julho de 1934.
E agora em pleno Ano Santo a Igreja se reconcilia com o Padre Cícero, pondo fim ao martírio que ele suportou até morrer.
Com informações do Portal de Juazeiro
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