Transposição do Rio São Francisco - Obra avança no trecho do Ceará

Já foram acionados motores para que a água chegue ao Ceará, que será beneficiado com o projeto por meio dos reservatórios de Jati e Porcos (Foto: Reprodução/Diário do Nordeste)

Com mais de 83% das obras físicas concluídas com o último relatório de janeiro, o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PIRF) também avança no trecho que inclui o Estado, com 73,7% de execução, localizado nos municípios cearenses de Penaforte, Brejo Santo, Jati e Mauriti, nas metas do eixo Norte, 2N e 3N. A expectativa é que a primeiro trecho realizado no Ceará venha a ser entregue até dezembro deste ano.

Em Barro e Mauriti, na meta 3N, o avanço é mais considerável, com 91,9% de conclusão, além de inserir Monte Horebe, São José de Piranhas e Cajazeiras, na Paraíba. Orçado em R$ 8,2 bilhões, com cálculos de planilha vigente, já foram investidos R$ 7,5 bilhões nas obras do canal da transposição do "velho Chico".

O projeto que atua em dois eixos na região, tem o Leste com 81,6% e o Norte com 84,7%. As obras do projeto da transposição foram iniciadas em 2007 e, após atrasos consecutivos, a previsão para iniciar a entrega é em dezembro de 2016, com perspectiva de conclusão para 2017. Moradores das áreas mais próximas ao canal aguardam ansiosos o fim da obra, que possa resultar em condições de trabalho melhores principalmente para os pequenos produtores.

Foram acionados motores de três Estações de Bombeamento (EB) do projeto: EBV-1 e EBV-2, em Floresta (PE), no Eixo Leste; e a EBI-1, em Cabrobó (PE), no Eixo Norte. O Ceará será beneficiado com o projeto por meio dos reservatórios de Jati e Porcos. Os trabalhos nas áreas desses municípios seguem em ritmo normal, com turnos distribuídos nas 24 horas. É notório o avanço no local, com a construção da barragem e a inserção de aquedutos na área, além da barragem, por onde irá entrar a água no Ceará, que será redistribuída para outras localidades do Estado, além da Região Metropolitana de Fortaleza, por meio do Cinturão das Águas.

Mobilização
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional (MI), todas as frentes de trabalho do projeto estão mobilizadas. Atualmente, 10.111 profissionais atuam na obra e 3.860 equipamentos estão em operação. Os dados são de janeiro de 2016. A meta do projeto é beneficiar 12 milhões de pessoas localizadas na área urbana de 390 municípios, nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, além das 294 comunidades rurais próximas aos canais.

Os dois eixos do projeto (Norte e Leste), quando concluídos, possibilitarão captar a água do Rio São Francisco, que percorrerá os 477 quilômetros de canais para abastecer adutoras e ramais que irão perenizar rios e açudes. Essa é a ideia da integração das bacias. As 294 comunidades rurais serão beneficiadas por meio de sistemas de distribuição de água. O que for captado nos canais da transposição vai passar pelos sistemas e chegar até os 78 mil habitantes próximos aos dois eixos, sendo 12 comunidades quilombolas, 23 indígenas e nove assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As infraestruturas de abastecimento fazem parte dos 38 programas socioambientais desenvolvidos pelo projeto.

Benefícios
De acordo com o Governo Federal, o Projeto São Francisco beneficiará 848 famílias que moravam nos locais por onde a obra passa. Essas famílias serão reassentadas em casas de 99m² nas 18 Vilas Produtivas Rurais construídas pelo Governo Federal. Atualmente, 623 famílias estão reassentadas em 16 vilas. As duas restantes serão entregues até o final de março deste ano, dentro das ações dos programas socioambientais.

Com a finalidade de perceber a dimensão da obra, um grupo de bispos, padres e pessoas ligadas às pastorais sociais, organizações da sociedade civil e representantes de universidades e do governo federal fez uma visita às obras do Eixo Norte do Projeto de Integração das Bacias do Rio São Francisco, de 29 de fevereiro a 3 de março. A comissão esteve no Cariri e ficou surpresa com os avanços na região, mas cobram do governo que sejam cumpridos os prazos para conclusão, além dos acordos de reassentamento e indenizações.

Divulgação
Segundo dom Antônio Carlos Cruz Santos, bispo de Caicó, no Rio Grande do Norte, todos agora estão cientes da grandiosidade da obra, e que as pessoas não conhecem como deveriam, já que não vêm sendo divulgada a contento. Uma das suas preocupações está relacionada às indenizações de moradores na área de Oiticica, no Rio Grande do Norte. Outro aspecto diz respeito ao estado de adiantamento dos serviços que, conforme ele, é importante o governo estar atento ao cumprimento dos prazos. "Duas coisas precisam caminhar juntas: uma obra não pode ser feita em cima de uma injustiça, e a nossa preocupação sempre se colocou ao lado daqueles que são atingidos pela barragem", afirma.

Impacto
O padre Vileci Vidal, do Cariri, destaca a importância de visitar o trecho da obra em Jati. Ele disse que isso tira o mito em torno da transposição, de ter informações sem a visibilidade da obra. "A gente sabe que é grandiosa, mas que vem trazendo impacto ambiental, e tem a situação de pessoas que ainda não foram indenizadas, além dos conflitos sociais que precisam ser levados em consideração", considera.

De acordo com o sacerdote, além de ser uma obra grandiosa, os trabalhos se encontram bastante adiantados. "Vemos a grande importância, sobretudo diante de uma crise climática para essa região, que sofre historicamente com a seca e que não vai atingir o São Francisco, porque é 1,6% do volume de água, que já é despejado no rio", diz. Em Salgueiro, Pernambuco, foi realizado um fórum aberto, no último dia 3, para debater as questões relacionadas ao que foi observado pela caravana, com representantes do Ministério da Integração.

A previsão era de que fosse totalmente entregue até o fim deste ano. Até 2014, as águas da Transposição do Rio São Francisco chegariam ao reservatório de Jati, um dos principais do projeto, para ser redistribuída no Estado do Ceará, por meio do Cinturão das Águas, obra do governo estadual em parceria com o federal e que já chegou a ter boa parte dos trechos paralisada, neste ano, com frentes de serviço reduzidas.

Moradores do distrito de Umburanas e Palestina, em Mauriti, ainda sonham com a conclusão dos serviços do Canal da Transposição que passa pela área. O projeto mudou a rotina. E não somente isso, mas alguns deles tiveram que sair da área, principalmente quem vivia próximo ao Riacho de Umburanas, numa área onde estão sendo executados aquedutos. É que a água do Riacho de Umburanas secou e não deu para plantar mais. Alguns aproveitam água dos poços, mas de qualidade ruim.

A agricultora Francisca Furtado da Costa afirma que o Canal será realidade apenas para os seus netos. "É um sonho ainda. Não acredito que ficará pronto logo", diz. A moradora afirma que chegou a ficar isolada, com a parede alta de frente à sua casa e uma cerca de proteção para que as pessoas não avancem em direção ao local. Na área da sua pequena propriedade rural, que nos últimos anos já teve vontade de sair, não tem muito o que fazer nos tempos de seca. É que o pouco da água do riacho utilizada para irrigar pequenas plantações, principalmente de fumo, já está bastante escassa.

Reflexos
"A gente sabe que a obra é grandiosa, mas que vem trazendo impacto ambiental, além dos conflitos sociais". Vileci Vidal - Padre

Mais informações:
Ministério da Integração Nacional

Telefone: (61) 2034-5296/5528

Fonte:diariodonordeste

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